A leitura é uma questão de estímulo
As pessoas entram à procura de Internet ou música e acabam lendo um livro. Em um ano, a Biblioteca Parque, no Rio de Janeiro, emprestou mais de 22 mil exemplares à comunidade.
"Na minha casa não tem livros, meus pais não gostam de ler. Já aqui
você fica rodeado deles e acaba pegando algum", diz o estudante Tomas
Jéferson da Silva, 16 anos, que cursa o ensino médio e vai todas as
tardes à Biblioteca Parque, no bairro de Manguinhos, na zona norte do
Rio de Janeiro. Inaugurado há um ano, o espaço recebe 500 visitantes
diariamente e já emprestou mais de 22 mil livros aos moradores das
favelas da região. Trata-se de um dado espantoso, já que na área, ainda
dominada pelo tráfico de drogas, os 33 mil habitantes contam com uma
única escola de nível médio e a taxa de pessoas com curso superior não
chega a 3%.
É em comunidades desfavorecidas como essa que o
governo do estado fluminense pretende erguer outras bibliotecas, que
nada deixam a desejar às de primeiro mundo. Além de livros, as unidades
oferecem filmes, música, acesso gratuito à internet, salas de reunião e
oficinas em que os jovens aprendem a escrever e têm ainda a oportunidade
de publicar a própria obra. O modelo foi inspirado em experiências
bem-sucedidas realizadas na periferia de Paris e em favelas de Bogotá.
Até o final do ano, será inaugurada uma segunda unidade, na favela da
Rocinha.
- Livros no sofá
- A grande sacada desse tipo de
projeto - uma construção que custou 8,7 milhões de reais - é o fato de
ter sido planejado cuidadosamente para não causar estranheza aos
moradores e conseguir atrair um público que não está acostumado a
frequentar espaços assim. As paredes são de vidro e quem passa do lado
de fora pode ver o que acontece lá dentro. No salão principal, não é
preciso fazer silêncio e qualquer um pode mexer nos livros - as estantes
são mais baixas do que o normal de propósito. Para instigar o público,
alguns exemplares ficam expostos em mesas e outros são "esquecidos"
intencionalmente sobre os sofás.
A biblioteca tem 30 funcionários e um acervo de 27 mil títulos: estão lá os clássicos da literatura, obras de referência de filosofia, antropologia e ciências políticas, além de grandes livros de arte, cinema e fotografia. "A experiência mostra que a gente se interessa por aquilo que nos é oferecido. Também depende de como nos é oferecido. Não adianta só mandar uma caixa de livros para um lugar imaginando que algo vá acontecer", diz Vera Saboya, coordenadora do projeto. A maior parte das pessoas que frequenta a Biblioteca Parque de Manguinhos tem idade inferior a 20 anos. São jovens que procuram o local para acessar a internet ou assistir a um filme, mas acabam seduzidos pela literatura. Foi o que ocorreu com Tomas Jéferson.
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