UM PAÍS DE LEITORES - E AUTORES

0 comentários
Um país de leitores - e autores
O livro brasileiro está mais barato, e os consumidores estão comprando mais exemplares. Uma ótima notícia que se deve, em grande parte, aos escritores nacionais que se provaram capazes de conquistar o público.

O brasileiro, ninguém duvida, está lendo mais. Mas quão mais, e por quê? Para responder a essas perguntas, a Câmara Brasileira do Livro e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas conduziram um censo em 2010. Descobriram que, já descontadas as compras do governo, o setor livreiro nacional saltou de 2,5 bilhões de reais em 2009 para 3,2 bilhões em 2010. Outros resultados animadores: o número de exemplares vendidos em 2010 cresceu mais de 8%, e o preço do livro caiu quase 5% em relação ao ano anterior - uma tendência em vigor desde 2004. Esses dados são a chave para um êxito colossal: o arranque de um mercado que estava andando de ré mas, na última década, engatou a marcha à frente. Em comparação com outros países, porém, o livro ainda é artigo seleto no Brasil. Em 2010, os editores nos Estados Unidos imprimiram 2,57 bilhões de exemplares. No Brasil, foram 493 milhões. Muito pouco, na comparação - mas um crescimento de 23% em um ano. Assombroso, até na China.

Quem está fazendo esse setor girar é em boa parte a chamada "nova classe média", que chegou ao centro do palco econômico com apetite insaciável pelo aprimoramento. Para atendê-la, não apenas se criaram edições mais baratas: passou-se a dar atenção inédita aos títulos que poderiam atraí-la. Muito se torce o nariz para a inanidade das listas de mais vendidos de anos recentes. É fato que, em décadas passadas, elas ostentaram autores de prestígio em maior número. Mas olhe-se por outro prisma: as listas antes refletiam um país em que só uma casta podia cultivar o hábito da leitura; hoje, espelham os gostos de uma leva nascente de leitores. Mais: apontam o sucesso dos autores nacionais, que falam diretamente a seu público. E não só o da nova classe média, que fique bem claro.

A faceta mais instigante do ressurgimento do livro no Brasil é o sucesso dos autores nacionais. Na ficção, os escritores brasileiros ainda disputam espaço com os estrangeiros, mas lideram em todas as outras vertentes. Disparam na frente na autoajuda, estão revitalizando um filão que já foi primordial - o das biografias - e naturalmente não têm rival na redescoberta da história do Brasil. Mas esse novo leitor almeja, acima de tudo, compreender a si mesmo e à vida e confortar-se espiritualmente - um dado ilustrado pela ascensão meteórica do padre Marcelo Rossi. Com 7,5 milhões de exemplares de Ágape já comercializados, o padre Marcelo vendeu tanto livro que estaria no topo até da lista americana de best-sellers. Não há erro em afirmar que, para muitos dos brasileiros que o compraram, Ágape é o único livro da casa. Mas é bem provável que seja o primeiro de vários deles. Ler é um vício virtuoso que cada vez mais pessoas vêm adquirindo, como atesta o ritmo de crescimento do mercado brasileiro.
Para ler, clique nos itens abaixo:

ESPIRITUALIDADE - O autor do século

    Os recordes batidos por Ágape, do padre Marcelo, o tornariam um best-seller até no colossal mercado americano. Sua explicação: "Tem de suar a batina"

    O padre Marcelo Rossi está com a mão direita inchada e trêmula, mas exibe um sorriso triunfal. O padecimento físico é efeito colateral do sucesso de Ágape, seu primeiro livro. Lançada em agosto de 2010, a obra figura há 76 semanas na lista de mais vendidos de VEJA, na categoria de autoajuda. Dos 7,5 milhões de unidades comercializadas até agora, 5,6 milhões saíram das prateleiras em 2011. Esse desempenho fez do padre não apenas o campeão de vendas de livros no Brasil no ano passado. Nunca se vira outro título, nacional ou estrangeiro, atingir em tão curto espaço de tempo essa marca no Brasil. Até para os padrões dos Estados Unidos, o maior mercado editorial do mundo, o feito é notável. Esse é um patamar que só autores como Dan Brown, de O Código Da Vinci, foram capazes de atingir. Há mais de uma década o padre Marcelo tem uma carreira fenomenal como cantor, com 13,5 milhões de discos vendidos. Agora, torna-se o autor brasileiro mais bem-sucedido deste século.

    "Tem de suar a batina", explica o padre. No esforço de divulgação do livro, ele rodou 51 cidades, em eventos que reuniram um total de 500 000 pessoas. No Recife, a fila para vê-lo dava várias voltas no quarteirão. Num shopping de Belém, os administradores cogitaram transferir a sessão de autógrafos para o estacionamento, por temer que algum fã despencasse de um vão livre próximo da livraria. Diante do desagrado do padre com a ideia, o shopping acabou tomado por uma multidão (felizmente, não houve acidentes). Nessas maratonas, o padre Marcelo não raro ficava das 11 da manhã às 10 da noite assinando dedicatórias. A certa altura, sua mão travava. Ele passava então a cantar e a distribuir bênçãos aos leitores. Como nem assim era possível atender à demanda, começou a presenteá-los com um selo que traz uma foto sua e uma mensagem (em um único evento, um estoque de 7 000 deles se esgotou).

    Ágape surgiu num momento doloroso. Em 2007, o padre-cantor reduziu drasticamente o ritmo de sua "aeróbica de Jesus", dando um tempo nas gigantescas showmissas e na gravação de CDs. O ponto de mutação foi a decepção do padre Marcelo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que ele acredita ter boicotado sua pretensão de se apresentar a Bento XVI durante a visita do papa ao país. Em 2010, veio a notícia de que ele seria agraciado pelo pontífice com um prêmio por seu trabalho como divulgador do catolicismo. O padre, porém, nem teve tempo de saborear a conquista. Dois dias depois de ser convidado para a premiação, sofreu um acidente grave enquanto corria na esteira. A lesão no pé esquerdo o prendeu por meses à cadeira de rodas. De natureza agitada, o padre sofria com a mágoa e o tédio acumulados. "Tive uma semidepressão. Mas era obrigado a sofrer calado, pois sou padre." Jogou muito videogame com os sobrinhos, mas continuou deprimido. Acabou canalizando "tudo aquilo guardado no coração" para a escrita. "Comecei com um relatório no qual buscava a luz em São João, por quem sou apaixonado", diz. Assim nasceu Ágape.

    Se a Bíblia pode ser considerada uma fonte ancestral da autoajuda, na medida em que seus textos acenam com consolo para a alma e regras de conduta, o padre foi direto à fonte: ele abre cada um dos doze capítulos do livro de 125 páginas com uma passagem do Evangelho de São João, o mais místico dos narradores da vida de Cristo. Os trechos das Escrituras são acompanhados de um comentário em tom de sermão pop, no qual se mesclam referências a santos e a personagens contemporâneos. No fim desses sermões, aparece uma oração para sanar as aflições dos leitores. Ágape se vale dos recursos clássicos para a aproximação com a massa dos leitores, como capítulos curtos e letras grandes. Mas beneficia-se de virtudes bem mais poderosas. Ter na capa a imagem do padre mais famoso do país já constitui, por si só, um chamariz infalível. Com seus dezessete anos de sacerdócio, o autor acredita que as orações são o grande atrativo do livro. "Ágape é um livro de cabeceira. As pessoas querem tê-lo à mão na hora de rezar", afirma ele. A Globo Livros achou o título inadequado, pois a maioria dos leitores entenderia ágape, banquete em grego, nesse seu sentido mais comum. O padre Marcelo prevaleceu ao sustentar que, na teologia cristã, "ágape" é sinônimo de "caridade" e de "amor divino". Diz ele: "A primeira reação das pessoas é de curiosidade. Elas querem ler o livro para saber o que significa".

    Seu triunfo demonstra a força dos livros motivacionais de cunho religioso. Em 2010, quando Ágape iniciava seu arranque, outro título de teor cristão - o romance A Cabana, do canadense William Young - se sagrou o mais vendido no Brasil. Young também se encantou com Ágape e tem ajudado nas negociações para seu possível lançamento nos Estados Unidos, e daí para a América Latina. O padre Marcelo também se cercou dos conselhos de um "irmão querido", conforme a dedicatória do livro. Embora já tenha alfinetado o também padre-cantor Fábio de Melo por dar shows sem batina, o parceiro desse último na série Cartas entre Amigos - o deputado e autor prolífico Gabriel Chalita - merece afagos. "Foi ele quem revisou o livro e sugeriu que tivesse esse formato", conta.

    O padre Marcelo é, de certa forma, um estranho no ninho da literatura religiosa de sucesso no Brasil. Os pioneiros nas listas de mais vendidos dessa categoria foram os espíritas. Sua representante mais típica entre os campeões de vendas é Zibia Gasparetto. Desde a década de 50, ela publicou quarenta livros que teriam sido ditados por espíritos e psicografados por ela. São romances, coletânea de contos e crônicas que já venderam, somados, cerca de 16 milhões de exemplares. Só seu título mais bem-sucedido, Ninguém É de Ninguém, lançado há doze anos, chegou à marca de 1,5 milhão de unidades vendidas. Os livros de Zibia Gasparetto falam de amor e dramas familiares e, narrados em linguagem simples, sempre trazem lições de moral. São histórias despretensiosas a que a chancela de espiritualista confere um certo mistério sobrenatural. Seu parceiro do além mais habitual é Lucius, que, em encarnações passadas, teria sido juiz na França e membro do Parlamento inglês. Mesmo entre os espíritas, Zibia está longe de ser uma unanimidade. Ao contrário do mestre maior da doutrina, Chico Xavier (1910-2002), ela não abre mão dos direitos de seus livros em prol de obras de caridade. Aos 85 anos, montou um império que não tem nada de etéreo. Zibia é dona da editora Vida & Consciência, que publica suas obras, impressas em uma gráfica própria, cuja sede ocupa um prédio de 6 000 metros quadrados em São Paulo.

    O padre Marcelo fica com parte do lucro proporcionado por seu trabalho. Do ponto de vista da hierarquia católica, isso não é problema. Os sacerdotes que não pertencem a ordens obrigadas ao voto de pobreza, caso dos padres Marcelo e Fábio de Melo, podem ter propriedades. O dinheiro do padre Marcelo é canalizado para a construção de um santuá¬rio na Zona Sul paulistana com capacidade para 100 000 fiéis, com 500 banheiros e estacionamento para 5 000 carros. O arquiteto Ruy Ohtake projetou o interior sem pilastras, de modo que o altar possa ser visto de qualquer lugar do templo. O sucesso do padre Marcelo como escritor deu novo ritmo à construção. Dos 25 milhões de reais gastos no projeto, 20 milhões vieram das vendas de Ágape. Um contrato especial com a Globo Livros ofereceu-lhe uma participação maior do que os 10% usuais sobre o preço de capa de cada exemplar (19,90 reais). Aos 44 anos, o padre Marcelo perdeu um pouco do ar jovial de outros tempos, efeito colateral dos remédios que toma enquanto luta contra uma atrofia em um dos joe¬lhos machucados na queda da esteira. Mas a reinvenção como autor renovou-lhe o ânimo. Dessa área ele só recebe boas notícias. Sua gravadora, a Sony, correu para colocar na praça uma versão de Ágape em CD, que, em apenas três meses, já vendeu 1,5 milhão de cópias. O CD tem o nome e a foto do padre Marcelo na capa, mas lá dentro traz canções, e não o conteúdo integral do livro. O padre pensa grande. Em abril, deverá lançar uma versão infantil do livro, o Agapinho. Depois do Brasil, o mundo? "Se tivesse surgido no mercado americano, Ágape certamente já teria virado um fenômeno mundial", afirma Mauro Palermo, diretor da Globo Livros. Essa tese em breve será testada em Portugal e na Coreia do Sul e, mais tarde, nos Estados Unidos, Inglaterra e Polônia.

Padre Marcelo Rossi

  • Quantos livros vendeu: 7,5 milhões
  • Maior sucesso: Ágape (seu único título)
  • Segredos profissionais: beneficia-se de uma vantagem intransferível - a de ser o padre Marcelo. E oferece uma combinação infalível de lições de autoajuda extraídas do Evangelho de São João com preces para sanar as aflições abordadas em cada capítulo.


Zibia Gasparetto

  • Quantos livros vendeu: 16 milhões
  • Maior sucesso: Ninguém É de Ninguém (1,5 milhão)
  • Segredos profissionais: seus romances têm o apelo das histórias de amor e dos dramas familiares - mas com a chancela da sabedoria espiritual, já que, segundo Zibia, eles são ditados a ela por entidades de luz


BIOGRAFIA - Meninos, ele viu


    Ao escrever com bossa sobre velhos amigos, Nelson Motta faz do leitor seu cúmplice

    Biografias alentadas como O Anjo Pornográfico, em que Ruy Castro se valeu de centenas de entrevistas para retratar o dramaturgo Nelson Rodrigues, são presença regular no mercado editorial brasileiro, e sucesso quase certo. O que o jornalista e escritor Nelson Motta traz de novo a esse filão, entretanto, é primeiro o tom, de um bate-papo agradável com os amigos de boteco. Depois, a cumplicidade: Motta fala de gente que conheceu, e escolhe falar dessas pessoas no seu momento mais interessante. "Prefiro os retratos dos artistas quando jovens", disse o autor no ano passado, a propósito do lançamento de seu livro A Primavera do Dragão, sobre o cineasta baiano Glauber Rocha. "É a idade da inocência, da grande vitalidade, e isso torna o personagem mais encantador", explicou. A narrativa na primeira pessoa, o bom humor e o ritmo leve completam a receita que, desde Noites Tropicais, de 2000, tem feito de Motta um biógrafo pop envolvente. A eficácia de seu estilo, no entanto, fica particularmente evidente em seu maior sucesso, Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia, lançado em 2007. Mesmo acompanhando o artista por altos e baixos até o fim da vida, o autor não deixa que os dramas pessoais sombreiem a narrativa. "O Tim era um artista muito popular e querido, que levava uma vida escancarada", pondera. Mesmo no caso de vidas assim escancaradas, porém, há certas coisas que só quem viu com os próprios olhos poderia contar. E esse, segundo Motta, é seu maior segredo. "O autor estava lá", define.

Nelson Motta

  • Quantos livros vendeu: 343 000 
  • Maior sucesso: Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia (142 000)
  • Segredos profissionais: utiliza sua longa experiência como crítico musical, compositor e personagem do showbiz. Escreve na primeira pessoa - no estilo crônica de jornal - sobre artistas populares com quem conviveu, como os cantores Elis Regina (em Noites Tropicais) e Tim Maia (em Vale Tudo)

ENTRETENIMENTO - Poderia até dar um filme. Ou vários

    Bem e mal, vampiros e alienígenas, personagens inventados às voltas com gente real: o cinema e os games são as fontes de inspiração dos bons vendedores da ficção ligeira nacional

    Em 1988, depois de quase três décadas dedicadas ao humor no cinema, no teatro e em especial na televisão, Jô Soares decidiu se reinventar. Trocou o papel de comediante pelo de apresentador de programa de entrevistas, o clássico talk-show da televisão americana. Estreou no SBT e, onze anos depois, transferiu-se para a Rede Globo, onde está até hoje. Entre uma coisa e outra, em 1995 ele decidiu testar-se também como escritor. E vendeu 500 000 exemplares de O Xangô de Baker Street, que permanece como seu título de maior sucesso graças a essa marca, que era, então, ainda mais expressiva do que hoje. Em seguida vieram O Homem que Matou Getúlio Vargas (1998), Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (2005) e As Esganadas (2011). Ao todo, Jô já vendeu mais de 1,1 milhão de exemplares, sempre com histórias que misturam trama policial e comédia em cenários de época nos quais personagens fictícios e reais se esbarram a todo instante. Em Xangô, por exemplo, o famoso e fictício detetive inglês Sherlock Holmes ia ao Rio de Janeiro desvendar um mistério por recomendação de uma amiga, a muito verdadeira atriz francesa Sarah Bernhardt.

    Jô, porém, acredita ter na combinação desses ingredientes não propriamente uma receita de sucesso, mas apenas um tipo de inspiração comum a todos os seus livros: "O humor é minha principal ferramenta, claro. Mas sou meticuloso com a informação de época". Para descrever o Rio de Janeiro de 1938 em As Esganadas - que trata de um serial killer com estranha fixação por mulheres gordas -, o autor pesquisou até mesmo o itinerário dos velhos bondes da cidade. Outra razão de seu apelo, especula Jô, está em narrar a história como quem faz um filme de suspense. "Eu penso cinema", diz.

    Foi também com o cinema na cabeça que o paulista André Vianco começou a escrever. Aos 37 anos, ele é autor de treze romances de fantasia, aventura, suspense e vampiros que, juntos, já venderam 920 000 exemplares. "Eu queria mesmo era fazer filmes. Mas resolvi ir para a literatura, que é o cinema dos pobres", brinca. Hoje, as boas vendas de seus livros o levaram de volta ao objetivo inicial. Depois de abrir uma produtora de vídeo no ano passado, Vianco já tem pronto o piloto de um seriado basea¬do em O Turno da Noite, que publicou em 2006. Sua trajetória literária começou em 1998, com O Senhor da Chuva, uma história sobre anjos e demônios que tinha um vampiro entre seus personagens. "Muita gente me dizia que os leitores desse tipo de ficção não gostam de personagens brasileiros. Por isso, fiz questão de quebrar o tabu", afirma. Assim, em seu segundo e mais bem-sucedido livro, Os Sete, vampiros do Leste Europeu vão para Portugal e de lá para o Brasil, a fim de aterrorizar Porto Alegre. Esses dois primeiros títulos foram lançados de maneira independente (com o dinheiro do FGTS do autor, aliás). Somente em 2001 Vianco assinou contrato com uma editora. Hoje, suas aventuras e fantasias saem pela Novo Século, enquanto os suspenses, como o mais recente, O Caso Laura, são publicados pela Rocco. No momento, ele escreve um novo romance fantástico que deve render três volumes. "O leitor gosta de ver os personagens que conhece atravessarem várias fases, como num video¬game", diz.

    Nesse mesmo registro pop atua o carioca Eduardo Spohr, que atingiu a casa dos 300 000 exemplares já com seu primeiro romance, A Batalha do Apocalipse (sobre anjos e demônios, é evidente). Isso muito embora a tiragem inicial, paga do seu próprio bolso e posta à venda na loja virtual do blog Jovem Nerd, tivesse apenas 100 exemplares. "Em cinco horas, o estoque acabou", lembra com orgulho Spohr. Desde então, a internet e as redes sociais são a mais eficaz ferramenta de divulgação deste ex-jornalista de 35 anos. Filhos do Éden, seu segundo livro, foi lançado no ano passado. Seu próximo romance, Anjos da Morte, será um épico em nada menos que quatro volumes. Spohr, enquanto isso, mira o mercado externo. Como A Batalha do Apocalipse ganhou edições na Holanda, na Turquia e em Portugal, ele também quer falar aos leitores do inglês e do espanhol. "As pessoas gostam das minhas histórias porque elas falam de algo que todos compreendem - a eterna luta entre o bem e o mal."

Jô Soares

  • Quantos livros vendeu: 1,1 milhão
  • Maior sucesso: O Xangô de Baker Street (500 000
  • Segredos profissionais: além da imensa popularidade como personalidade do showbiz, ele utiliza o humor temperado com suspense policial. Outra marca registrada é a mistura de personagens reais, como a atriz Sarah Bernhardt, com figuras fictícias, como o detetive Sherlock Holmes, em painéis de época

Eduardo Spohr

  • Quantos livros vendeu: 400 000
  • Maior sucesso: A Batalha do Apocalipse (300 000)
  • Segredos profissionais: seus romances de fantasia e aventura tratam da luta entre o bem e o mal tendo como personagens anjos, demônios e alienígenas. Nerd assumido, ele tem como alvo o público das sagas de magia e ficção científica, a exemplo de O Senhor dos Anéis e Guerra nas Estrelas

André Vianco

  • Quantos livros vendeu: 920 000
  • Maior sucesso: Os Sete (230 000)
  • Segredos profissionais: investiu no filão dos romances de fantasia épica (ao estilo de O Senhor dos Anéis) e das histórias de vampiros (como As Crônicas Vampirescas, de Anne Rice), pouco explorado pelos autores nacionais. Também seus personagens e cenários são todos brasileiros

ADOLESCENTES - Sucesso, e sem vampiros


    Com bom humor e algum esforço promocional, a escritora carioca que se define como "fofa" conquistou os jovens leitores e realizou a meta de viver da literatura

    O poder do público jovem ficou demonstrado com o êxito fenomenal da série Crepúsculo: lançados no Brasil a partir de 2008, os quatro livros da americana Stephenie Meyer já venderam 5,7 milhões de exemplares no país. Fãs que acompanham Thalita Rebouças pelo Twitter (onde ela tem 180 000 seguidores) até já sugeriram que ela também escrevesse sobre vampiros. Mas a praia da escritora carioca de 37 anos não é o sobrenatural. Com treze títulos publicados, Thalita vendeu 1,2 milhão de exemplares falando de escola, amizade, relação com os pais, sexo - temas muito próximos dos jovens brasileiros. "Tenho orgulho de continuar falando do cotidiano neste momento em que os vampiros estão bombando", diz.

    Thalita fala de perto sobretudo às garotas que estão na primeira adolescência, mais ou menos entre os 13 e os 15 anos. Ela é jornalista e já viveu de trabalhos esporádicos - o que no jargão profissional se chama de freelancer - antes de estourar como escritora. "Sempre sonhei em viver só de literatura", diz. Estreou em 2001, com Traição entre Amigas, pela editora Ao Livro Técnico. Desde sempre, preocupou-se com a publicidade de seu trabalho. No início da carreira, em um esforço improvisado de marketing, fazia, por conta própria, banners para anunciar sua obra em eventos como a Bienal do Livro. Também distribuía buttons com os dizeres "Ler é bacana". Em 2003, assinou contrato com a Rocco, editora na qual lançou a série Fala Sério, hoje com seis títulos. Cada livro acompanha a protagonista - que fala em primeira pessoa, em tom confessional - da infância até os 21 anos, com um foco mais detido, claro, na adolescência. "Os adolescentes dizem para mim que é como se eu olhasse para eles pelo buraco da fechadura. Eles se identificam com os personagens", diz.

    Hoje Thalita vive seu sonho: sustenta-se muito bem com seus livros. No ano passado lançou dois títulos, mas deve publicar apenas um em 2012, pois está envolvida na adaptação teatral de dois de seus livros, Tudo por um Pop Star e Era uma Vez Minha Primeira Vez. Ela tem a inteligência de mostrar-se atualizada sem fazer força para isso, o que a leva a rechear os livros com referências a comunidades sociais, celulares e objetos de desejo da moçada. "Escrevo os livros que eu gostaria de ter lido quando tinha aquela idade", diz a autora - que, quando era adolescente, lia João Ubaldo Ribeiro e Luis Fernando Verissimo. O humor leve desse último, aliás, foi uma lição que a escritora soube incorporar. Os livros de Thalita são bem-humorados - e muito simpáticos. Ou, como ela mesma se define no seu site oficial: "Sou fofa".

Thalita Rebouças

  • Quantos livros vendeu: 920 000
  • Quantos livros vendeu: 1,2 milhão
  • Maior sucesso: Fala Sério, Mãe! (150 000)
  • Segredos profissionais: encontrou um nicho pouco explorado no Brasil junto ao público que está entrando na adolescência, dos 13 aos 15 anos. Ela trata dos problemas cotidianos dessa turma num tom de conversa que faz o leitor sentir que está falando com uma amiga.

HISTÓRIA - O passado com carne e osso

    Retratos de dois anos cruciais para o Brasil e dois guias históricos que desmontam clichês da correção política estão entre os grandes fenômenos editoriais da atualidade

    As grandes biografias de personagens históricos são sucessos clássicos na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, as obras generalistas dominam a cena editorial. Trata-se, em geral, de compêndios de história escritos com o sabor literário e a vitalidade jornalística. Os maiores best-sellers do gênero são de autoria de jornalistas. O pioneiro foi Eduardo Bueno, nos anos 90, com a série Terra Brasilis. Em 2007, Laurentino Gomes lançou 1808, sobre a chegada de dom João VI ao Rio, seguido três anos depois por 1822, relato da Independência. Somados, seus dois retratos de anos cruciais para o Brasil venderam 1,4 milhão de exemplares. Leandro Narloch, também jornalista, deu uma virada provocativa no gênero com seu Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de 2009. O livro desmonta clichês e mitos, colocando na correta perspectiva histórica eventos que a esquerda inflou ou até inventou. "O livro é um manifesto fundamentado contra o velho relato ranzinza da história brasileira como uma sucessão de casos de opressão", define Narloch. Em parceria com Duda Teixeira, editor assistente de VEJA, Narloch lançou, no ano passado, o Guia Politicamente Incorreto da América Latina. Em 2013, deve sair seu terceiro e último guia, dedicado à história mundial. Pelo visto, o passado seguirá presente nas listas de mais vendidos.

Leandro Narloch

  • Quantos livros vendeu: 368 000
  • Maior sucesso: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (293 000)
  • Segredo profissional: o filão de livros de história escritos sobretudo por jornalistas já era bem estabelecido no Brasil, mas Narloch acrescentou um toque polêmico à fórmula ao desmontar com muito humor os lugares-comuns da historiografia esquerdista

Laurentino Gomes

  • Quantos livros vendeu: 1,4 milhão
  • Maior sucesso: 1808 (920 000)
  • Segredos profissionais: bem pesquisados e bem escritos, seus livros dão vida a figuras históricas como dom João VI e dom Pedro I. O uso de anos marcantes da história brasileira como título também se revelou uma boa estratégia de vendas.

AUTOAJUDA - O rico mercado da felicidade

    Metáforas e bordões simples são parte da fórmula de quem vende milhões com obras motivacionais

    Com suas receitas simples (e raramente testadas) para o sucesso - profissional, afetivo, pessoal -, a autoajuda tornou-se um dos filões mais lucrativos do mercado brasileiro. É o esteio de editoras como Sextante e Gente - cujo dono é ele mesmo um autor veterano, Roberto Shinyashiki. E é um gênero expansivo: seus truques e convenções aparecem em best-sellers de ficção (lembram de Paulo Coelho?) e não ficção. Um dos ficcionistas brasileiros de maior sucesso nos últimos anos é Augusto Cury, originalmente um campeão da autoajuda (embora não goste de ser classificado assim). Seus romances trazem chavões sentenciosos como título - como De Gênio e Louco Todo Mundo Tem um Pouco - e são repletos de conselhos motivacionais. "Minhas obras de ficção não almejam apenas o entretenimento, mas também o desenvolvimento da consciência", define o autor. Ambos psiquiatras por formação, Cury e Shinyashiki são astros do rico mercado de palestras em empresas. Os 21 livros de Shinyashiki - que somam 7 milhões de exemplares vendidos - são mais voltados para o que se pode chamar de público "corporativo". Sua linguagem, porém, é informal, despida de jargões técnicos. O autor recorre principalmente a metáforas simples para passar sua mensagem. Em Problemas? Oba!, por exemplo, ele compara uma empresa com deficiências renitentes a uma velha árvore que já morreu, sem que ninguém demonstre ânimo para cortá-la. Shinyashiki usa a expressão "controle remoto do livro" para falar da dura competição de seu setor: "Cada pessoa tem uma lista de vinte, trinta livros que gostaria de ler. Se a leitura travar nas cinco primeiras páginas, o leitor troca de livro como quem trocaria de canal na TV". Para testar a eficácia e a clareza de seu texto, portanto, o autor submete seus livros, antes da publicação, ao crivo de leitores anônimos.

    Cury calcula ter vendido 16,5 milhões de exemplares dos seus 25 títulos. Seu êxito se deu por força da compra por impulso. As edições de bolso de Você É Insubstituível galgaram as listas de mais vendidos no começo da década passada em larga medida por ser exibidas estrategicamente próximo do caixa nas livrarias. Com o tempo Cury se firmou como um aplicado criador de bordões - a começar pelos títulos de suas obras. É capaz de escrever, sem corar, frases do tipo: "Somos todos crianças brincando no teatro do tempo". Parece fácil? Bem, ele conta que reescreve pelo menos dez vezes cada frase de seus livros. Diz: "A estética da linguagem tem tanta importância quanto o conteúdo".

Roberto Shinyashiki
           
  • Quantos livros vendeu: 7 milhões
  • Maior sucesso: A Carícia Essencial (1,6 milhão)
  • Segredos profissionais: em obras que combinam motivação pessoal e aconselhamento profissional, o psiquiatra usa um tom informal, em primeira pessoa, com metáforas simples e diretas. E testa a eficácia do texto com vários leitores anônimos antes de publicar seus livros

Augusto Cury

  • Quantos livros vendeu: 16,5 milhões
  • Maior sucesso: Nunca Desista de Seus Sonhos (1,8 milhão)
  • Segredos profissionais: foi o desbravador do filão da autoajuda no Brasil e é um criador de bordões que dão ar de conhecimento filosófico ao senso comum - a começar pelos títulos de seus livros, como Você É Insubstituível.

CIÊNCIA - A mente curiosa

    Uma psiquiatra carioca se tornou estrela da divulgação científica com livros baseados em seus casos clínicos

    A psiquiatra carioca Ana Beatriz Barbosa Silva teve a sorte de lançar um livro sobre psicopatas quando a relação entre distúrbio mental e crime estava em evidência. Mentes Perigosas, seu primeiro livro pela editora Objetiva, chegou às livrarias mais ou menos uma semana depois de 13 de outubro de 2008, data em que o motoboy Lindemberg Fernandes Alves assassinou a ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, em Santo André. Ana Beatriz chegou a dar algumas entrevistas sobre o caso, diagnosticando Lindemberg como possível psicopata. A casualidade pode ter dado um empurrãozinho nesse que é o maior sucesso da autora, com mais de meio milhão de exemplares vendidos. Mas Ana Beatriz é um fenômeno sobretudo por ter encontrado uma fórmula eficiente e acessível. Ela discute a vasta galeria dos distúrbios da mente humana amparada em exemplos reais de sua prática clínica. "Troco o nome, a profissão, às vezes até o sexo dos pacientes, para que não sejam identificados. Mas são todos casos reais", diz a psiquiatra.

    O físico Marcelo Gleiser e o neurocientista Miguel Nicolelis (que, aliás, tem uma grande fã em Ana Beatriz) já frequentaram as listas de mais vendidos. Mas a divulgação científica, que nos Estados Unidos e na Inglaterra consagrou os pesquisadores Stephen Hawking, Carl Sagan ou Richard Dawkins, ainda é um gênero desbravado timidamente no Brasil. Ana Beatriz é a sua maior estrela. Ela mesma sofre de transtorno de déficit de atenção, tema de seu livro Mentes Inquietas. Não gosta de trabalhar no computador, pois tende a se dispersar. Escreve a mão. Sabiamente, pede que sua empregada leia seus textos. Se ela gosta, é meio caminho andado para atingir o público leigo.

Ana Beatriz Barbosa Silva

  • Quantos livros vendeu: 1 milhão
  • Maior sucesso: Mentes Perigosas (580 000)
  • Segredos profissionais: a psiquiatra Ana Beatriz trata de temas da neurociência com recurso a exemplos muito concretos extraídos de sua prática clínica, o que facilita ao leitor compreendê-los e identificar-se com eles.

FONTE: http://educarparacrescer.abril.com.br - Revista Veja
Texto Jerônimo Teixeira, Marcelo Marthe e Mario Mendes.



 



Postar um comentário