REALISMO foi um movimento artístico e literário surgido nas últimas décadas do século XIX na Europa, mais especificamente na França, em reação ao Romantismo.
Características do Realismo
- Veracidade: Demonstra o que ocorre na sociedade sem ocultar ou distorcer os fatos
- Contemporaneidade: descreve a realidade, fala sobre o que está acontecendo de verdade.
- Retrato fiel das personagens: caráter, aspectos negativos da natureza humana.
- Gosto pelos detalhes: lentidão na narrativa.
- Amor: a mulher objeto de prazer/adultério.
- Denúncia das injustiças sociais: mostra para todos a realidade dos fatos.
- Determinismo e relação entre causa e efeito: o realista procurava uma explicação lógica para as atitudes das personagens, considerando a soma de fatores que justificasse suas ações. Na literatura naturalista, dava-se ênfase ao instinto, ao meio ambiente e à hereditariedade como forças determinantes do comportamento dos indivíduos.
- Linguagem próxima à realidade: simples, natural, clara e equilibrada.
Correntes Filosóficas da época
- Positivismo (Augusto Comte)
- Determinismo (Hippolyte Taine)
- Darwinismo (Charles Darwin)
- Evolucionismo social (Herbert Spencer)
- Socialismo Utópico (Saint-Simon)
- Socialismo Científico (Karl Marx)
O Realismo nas artes
O Realismo fundou uma Escola artística que surge no século XIX em reação ao Romantismo e se desenvolveu baseada na observação da realidade, na razão e na ciência.
Como movimento artístico, surgiu na França, e sua influência se
estendeu a numerosos países. Esta corrente aparece no momento em que
ocorrem as primeiras lutas sociais contra o socialismo
progressivamente mais dominador, ao mesmo tempo em que há um crescente
respeito pelo fato empiricamente averiguado, pelas ciências exactas e
experimentais e pelo progresso técnico. Das influências intelectuais que
mais ajudaram no sucesso do Realismo denota-se a reação contra as
excentricidades românticas e contra as suas idealizações da paixão
amorosa. A passagem do Romantismo para o Realismo corresponde uma mudança do belo e ideal para o real e objetivo.
O Realismo na pintura
- Principais pintores realistas:
- Édouard Manet
- Gustave Courbet
- Honoré Daumier
- Jean-Baptiste Camille Corot
- Jean-François Millet
- Théodore Rousseau
O Realismo na escultura
Na escultura,
o grande representante realista foi o Auguste Rodin. O escultor não se
preocupou com a idealização da realidade. Ao contrário, procurou recriar
os seres tais como eles são. Além disso, os escultores preferiam os
temas contemporâneos, assumindo muitas vezes uma intenção política em
suas obras. Sua característica principal é a fixação do momento
significativo de um gesto humano.
O Realismo na arquitetura
Os arquitetos e engenheiros
procuram responder adequadamente às novas necessidades urbanas, criadas
pela industrialização. As cidades não exigem mais ricos palácios e
templos. Elas precisam de fábricas, estações ferroviárias, armazéns,
lojas, bibliotecas, escolas, hospitais e moradias, tanto para os
operários quanto para a nova burguesia.
O Realismo no teatro
Com o realismo, problemas do cotidiano ocupam os palcos. O herói
romântico é substituído por personagens do dia-a-dia e a linguagem
torna-se coloquial. O primeiro grande dramaturgo realista é o francês Alexandre Dumas Filho (1824-1895), autor da primeira peça realista, A Dama das Camélias (1852), que trata da prostituição.
Fora da França, um dos expoentes é o norueguês Henrik Ibsen (1828-1906). Em Casa de Bonecas, por exemplo, trata da situação social da mulher. São importantes também o dramaturgo e escritor russo Gorki (1868-1936), autor de Ralé e Os Pequenos Burgueses, e o alemão Gerhart Hauptmann (1862-1946), autor de Os Tecelões.
O Realismo pode ser visto até hoje em dia, em peças teatrais como o Homem da Faixa Preta e outras.
O Realismo na literatura
Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os
escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua
totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora ou idealizada da vida,
como fizeram os românticos; desejaram mostrar a face nunca antes
revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e
do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos.
Uma característica do romance realista é o seu poder de crítica,
adotando uma objetividade que faltou ao romantismo. Grandes escritores
realistas descrevem o que está errado de forma natural, ou por meio de
histórias como Machado de Assis.
Se um autor desejasse criticar a postura de alguma entidade, não
escreveria um soneto para tanto, porém escreveria histórias que
envolvessem-na de forma a inserir nessas histórias o que eles julgam ser
a entidade e como as pessoas reagem a ela.
Em lugar do egocentrismo
romântico, verifica-se um enorme interesse de descrever, analisar e até
em criticar a realidade. A visão subjetiva e parcial da realidade é
substituída pela visão objetiva, sem distorções. Dessa forma os
realistas procuram apontar falhas talvez como modo de estimular a
mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar de
heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações. Na Europa, o realismo teve início com a publicação do romance realista Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert. Alguns expoentes do realismo europeu: Gustave Flaubert, Honoré de Balzac, Eça de Queirós, Charles Dickens.
Realismo no Brasil
A partir da extinção do tráfico negreiro, em 1850, acelera-se a decadência da economia açucareira no Brasil
e o país experimenta sua primeira crise depois da Independência. O
contexto social que daí se origina, aliado à leitura de grandes mestres
realistas europeus como Stendhal, Balzac, Dickens e Victor Hugo, propiciaram o surgimento do Realismo no Brasil.
Assim, em 1881 Aluísio Azevedo publica O Mulato (primeiro romance naturalista brasileiro) e Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas (primeiro romance realista do Brasil).
Lembrando que Machado de Assis foi o principal escritor do Realismo no Brasil, suas principais obras foram: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro.
Realismo em Portugal
O Realismo na Literatura surge quando o Bile (Wellington Victor Mohr)quer. Portugal após 1865, devido à Questão Coimbrã e às Conferências do Casino, como resposta à artificialidade, formalidade e aos exageros do Romantismo de uma sentimentalidade mórbida. Eça de Queirós é apontado, junto a Antero de Quental,
como o autor que introduz este movimento no país, sendo o romance
social, psicológico e de tese a principal forma de expressão. Deixa de
ser apenas distração e torna-se meio de crítica a instituições, à
hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura), à vida urbana (tensões
sociais, económicas, políticas) à religião e à sociedade,
interessando-se pela análise social, pela representação da realidade
circundante, do sofrimento, da corrupção e do vício. A escravatura, o
racismo e a sexualidade são retratados com uma linguagem clara e
directa.
A primeira manifestação do Realismo em Portugal deu-se inicialmente na Questão Coimbrã, polémica esta que significou, nas palavras de Teófilo Braga
“a dissolução do Romantismo”. Nela se manifestaram pela primeira vez as
novas ideias e o novo gosto de uma geração que reagia contra o marasmo
em que tinha caído o Romantismo.
O segundo episódio verificou-se em 1871 nas Conferências do Casino (ou Conferências Democráticas do Casino). Nessa nova manifestação da chamada Geração de 70,
os contornos do que seria o Realismo apareceram desenhados com maior
nitidez, especialmente através da conferência realizada por Eça de Queirós intitulada O realismo como nova expressão da arte. Sob a influência do Cenáculo, e da sua figura central, Antero de Quental, Eça funde as teorias de Taine, do determinismo social e da hereditariedade com as posições estético-sociais de Proudhon.
Atacando o estado das letras nacionais e propôs uma nova arte, uma arte
revolucionária, que respondesse ao "espírito dos tempos" (zeitgeist), uma arte que agisse como regeneradora da consciência social, que pintasse o real sem floreados. Para Eça só uma arte que mostrasse efectivamente como era a realidade, mesmo que isso implicasse entrar em campos sórdidos, poderia fazer um diagnóstico do meio social, com vista à sua cura. Assim reagia contra o espírito da arte pela arte, visando mostrar os problemas morais e assim contribuir para aperfeiçoar a Humanidade. Com este cientificismo, Eça de Queirós já situava o Realismo na sua posição extrema de Naturalismo.
Houve reacções: Pinheiro Chagas atacou Eça. Luciano Cordeiro argumentou que ele próprio já tinha defendido posições parecidas. A implantação efectiva do Realismo dá-se com a publicação do O Crime do Padre Amaro, seguida, dois anos mais tarde, pelo Primo Basílio,
obras ambas de Eça, que são caracterizadas por métodos de narração e
descrição baseados numa minuciosa observação e análise dos tipos
sociais, físicos e psicológicos, aparecendo os factores como o meio, a
educação e a hereditariedade a determinarem o carácter moral das personagens. São romances que têm afinidade com os de Émile Zola, com o intuito de crítica de costumes e de reforma social.
O primeiro desses romances foi acolhido pelos críticos de então com
um silêncio generalizado. O segundo provocou escândalo aberto. E a
polémica e a oposição entre Realismo e Romantismo estala
definitivamente. Pinheiro Chagas ataca Eça considerando-o antipatriota,
pelo modo como apresenta a sociedade portuguesa. Chegaram a aparecer
panfletos acusando os realistas de desmoralização das famílias (Carlos Alberto Freire de Andrade: A escola realista, opúsculo oferecido às mães).
Camilo Castelo Branco vai parodiar o Realismo com Eusébio Macário(1879) e voltando a parodiar com A Corja (1880). Mas curiosamente, mesmo através da paródia, Camilo vai absorver a nova escola, como é nítido na novela A Brasileira de Prazins. (1882).
Entretanto o paladino do Realismo, Eça, vai desorientar os seus seguidores ortodoxos com a publicação de O Mandarim. O que faz com que Silva Pinto (1848-1911) que tinha exposto a teoria da escola realista e elogiado Eça num panfleto intitulado Do Realismo na Arte, vai agora atacar Eça em Realismos, ridicularizando o novo estilo deste. Reis Dâmaso, na Revista de Estudos Livres vai-se insurgir contra a publicação de O Mandarim
acusando Eça de ter atraiçoado o movimento. Estas acusações não eram
infundadas porque de facto Eça já estava a descolar de um realismo
ortodoxo para o seu estilo mais pessoal onde o seu humor e a sua
fantasia se aliam num estilo único.
Desde a implantação do Realismo com a conferência de Eça, o movimento
logrou um núcleo de apoiantes que se desmultiplicaram em explicar e
defender o seu credo estético. Esse núcleo resvalou, em geral, para uma
posição mais extremadamente Realista, o Naturalismo, tornando-se
ortodoxo e dogmático. Os defensores dessa posição são José António dos Reis Dâmaso (1850-1895) e Júlio Lourenço Pinto (1842-1907) autor da Estética naturalista,
que pretendia ser um evangelho do Naturalismo. No entanto esses dois
autores são fracos do ponto de vista literário e totalmente esquecidos
hoje em dia.
Aqueles que não enveredaram por posições tão rígidas estão menos esquecidos, como Luís de Magalhães, que nos deixou O Brasileiro Soares (1886), livro prefaciado por Eça. Outros nomes são Trindade Coelho, Fialho de Almeida e Teixeira de Queirós.
Por volta de 1890 o Realismo/Naturalismo tinha perdido o seu ímpeto em Portugal. Em 1893, o próprio Eça o declarava morto nas Notas Contemporâneas:
“o homem experimental, de observação positiva, todo estabelecido sobre
documentos, findou (se é que jamais existiu, a não ser em teoria).
Embora por vezes doutrinariamente fraco e/ou confuso o Realismo em
Portugal apresenta-se por isso mesmo, mais do que um movimento
consistente, como uma tendência estética, um sentir novo, que se opôs ao Idealismo
e ao Romantismo. A sua consequência mais importante foi a introdução em
Portugal às influências estrangeiras nos vários domínios do saber.
Alargando as escolhas literárias e renovando um meio literário que
estava muito fechado sobre si mesmo.
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