DICAS DE LEITURA POR UM GANHADOR DO JABUTI

0 comentários

Dicas de leitura por um ganhador do Jabuti

O escritor carioca José Castello fala sobre seus gostos literários

Em 2011, ele ganhou o Prêmio Jabuti com "Ribamar", romance que se mostra às vezes biografia, em outras, relato de viagens, estilos narrativos que destacam a relação tumultuada entre pai e filho. José Castello usa o próprio nome e o do pai na trama premiada. "Confesso que não tive certeza que livro estava escrevendo por muito tempo... Normalmente, se tem a ideia de que a ficção é pura imaginação, quando eu gosto da ideia de pensar a ficção como uma escrita com um pé na realidade; por isso, é uma espécie de alargamento dessa realidade", comentou.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1951, de família nordestina (seu pai migrou de Parnaíba, Piauí, para o Sudeste), Castello se formou jornalista na Universidade Federal do Rio de Janeiro, trabalhando durante anos como crítico literário para o "Jornal do Brasil" e "O Estado de S. Paulo". Depois, começou a angariar fama com a produção de biografias (João Cabral de Melo Neto e Vinicius de Moraes, entre outras). Ficção pra valer teve início com o livro ´Fantasma´, de 2001, cuja narrativa é ambientada em Curitiba, onde reside desde 1994. Apesar de o prêmio reconhecer o talento como escritor, Castello nunca se sente plenamente satisfeito. "Só entrego os originais por cansaço, quando não suporto mais nem vê-los... Porque um escrito nunca está realmente pronto."
Como leitor, ele tem sido exigente desde garoto. Solitário, soube encontrar na literatura a companhia ideal para pensar, fantasiar, concluir. Conheça alguns dos livros que marcaram a vida de José Castello a seguir.

Cinco livros que marcaram a vida de leitor
Para ler, clique nos itens abaixo:
Robinson Crusoé, de Daniel Defoe

"Esse foi o primeiro romance que me pegou - li pela primeira vez aos 11 anos. Encontrei um exemplar em casa, esquecido por uma tia, irmã de minha mãe. Fiquei fascinado, lembro-me de ter lido e relido inúmeras vezes ao longo daquele ano... É a história de um sujeito que vai parar numa ilha que não tem nada, nem ninguém, ele está sozinho e precisa começar do zero... Era exatamente como me sentia quando garoto, eu era um Robinson Crusoé! Lendo aquele história, vi que existia outro como eu, o livro me deixou maravilhado porque comecei a ver que era possível viver na solidão absoluta. Crusoé era e foi um modelo para mim. E continua a ser até hoje".
Carta ao pai, de Franz Kafka

"Eu o li pela primeira vez na adolescência. E eu - que tinha imensas dificuldades na relação com meu pai - logo me identifiquei com os problemas que Franz Kafka enfrentou na relação com o próprio pai, Hermann Kafka, tema da carta. Carta, aliás, que Franz deu à mãe e ao pai - e que o pai nunca leu. Em 1976, dei esse livro de presente a meu pai, que nunca o leu também. Trinta anos depois, ele me serviu como uma das bases de apoio para a construção de meu romance "Ribamar", em 2010, que mereceu o prêmio Jabuti de "romance do ano" no ano seguinte. Nunca parei de reler a carta de Kafka - é uma obra prima".
 
Bartleby & Cia, de Enrique Vila-Matas

"Admiro muito toda a obra desse escritor espanhol e, em particular, "Bartleby & Cia", um lindo livro sobre os escritores que abdicam da palavra e preferem o silêncio. Eu o tenho na conta de mestre, Vila-Matas é a grande novidade dos últimos anos na minha vida de leitor. Sobretudo, porque ele escreve com essa perspectiva que tanto me agrada, não respeitando os gêneros literários, não desvinculando a vida da literatura. A literatura de Enrique Vila-Matas é uma reportagem ao mesmo tempo interior e exterior... Admito: por uns quatro a cinco anos, eu li obsessivamente tudo o que ele escreveu".
 
A paixão segundo GH, de Clarice Lispector

"Foi o primeiro livro de Clarice que eu li, aos 19 anos. O impacto foi tão forte que caí doente. O médico que me atendeu, chamado por minha avó, diagnosticou - sem saber que fazia uma estupenda crítica literária - que eu sofria apenas "de alguma paixonite". Nunca paro de relê-lo, é o grande livro de Clarice - embora eu seja apaixonado por toda a sua obra. Um livro que coloca em questão o próprio sentido da literatura e que está, de certa forma, ‘para além’ dela."
 
A passagem tensa dos corpos, de Carlos de Brito e Mello

"É uma obra que li faz pouco tempo... O escritor tem 35 anos, é de Minas Gerais e ele escreveu esse livro quando ainda ninguém o conhecia... Fiquei louco com essa leitura, tão maluco que já li esse livro quatro vezes seguidas. Depois, Carlos de Brito e Mello esteve, com toda a justiça, entre os finalistas do prêmio Portugal Telecom de Literatura. O livro tem mais de cem capítulos, todos eles bem curtos, e trata da morte de uma forma surpreendente."


FONTE: http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura




Postar um comentário